sábado, 10 de julho de 2010
O Projeto Genoma Humano é o grande empreendimento científico-tecnológico do mundo desenvolvido, deste final de século. O seu principal objetivo é mapear todos os genes do genoma humano, bem como descrever a seqüência completa de todos os nucleotídeos que formam a longa hélice de DNA nos 23 pares de cromossomos humanos. A partir daí pretende-se determinar as possíveis causas para muitas doenças de fundo genético. Com a identificação destas causas, deverão ser desenvolvidas terapias genéticas para a cura destas doenças; a promessa maior deste projeto.
Como iniciativa primeira do Departamento de Energia dos EUA, o Projeto Genoma Humano surgiu a partir da idéia de se identificar as possíveis anomalias genéticas relacionadas a radiação e agentes químicos mutagênicos. Hoje este projeto está sendo desenvolvido por grandes laboratórios e Institutos Nacionais de Pesquisa, dos EUA e da Europa, bem como, por centenas de laboratórios governamentais e particulares de várias partes do mundo, dedicados a mapear e seqüenciar o genoma humano. No Brasil, por exemplo, iniciativas governamentais e privadas estão desenvolvendo o Projeto Genoma Humano do Câncer, com a aplicação de um método de seqüenciamento, denominado ORESTES, desenvolvido em São Paulo para a praga da lavoura, Xillela fastidiosa (amarelinho).
Numa primeira fase do Projeto Genoma Humano, foi feito o mapeamento físico dos genes, ou seja, a localização no cromossomo de determinadas seqüências do DNA, correspondentes a cada gene do genoma. Numa segunda fase cada laboratório ou instituto de pesquisa, recebeu um cromossomo e ficou incumbido de determinar a seqüência ordenada e completa dos nucleotídeos que compõe aquele cromossomo, o que inclui genes e regiões controladoras da expressão destes.
Até o presente já foram identificados muitos genes relacionados a doenças como a fibrose cística, corea de Huntington, e vários cânceres.
Há poucos meses atrás as principais autoridades mundiais solenemente anunciaram o seqüenciamento parcial de todos os genes que compõe o genoma humano. O seqüenciamento completo e muito mais acurado de todos os genes, é esperado por volta de 2003.
As Questões Éticas
Como toda nova descoberta científica, a desafiadora tarefa de mapear e sequenciar o genoma humano levanta diversas questões de cunho ético, social e legal. Se cada gene é patrimônio individual, seria correto a sua patente por uma empresa privada, por exemplo? Esta é uma das principais questões levantadas quando se pensa nos milhares de genes que estão para ser descobertos e caracterizados e naqueles que já foram patenteados por empresas privadas como mostra a tabela abaixo:
Mal de Alzheimer — patente no 5.508.167, da Duke University, cedida à Glaxo. |
Hipertensão — patente no 5.589.584, da Fundação de Pesquisa da Utah University, cedida à Myriad Genetics. |
Obesidade — patente no 5.646.040, Millenium Pharmaceuticals, cedida à Hoffman-La Roche |
Artrite reumática — patente no 5.556.767, Human Genome Sciences. |
Suscetibilidade ao câncer de mama e ovário — patente no 5.693.473, Myriad Genetics. |
Osteoporose — patente no 5.501.969, Human Genome Sciences. |
Câncer do cólon — patente no 5.648.212, John Hopkins University, Fundação Japonesa para a Pesquisa do Câncer e Zeneca. |
Doenças Cardiovasculares — patente pendente, Myriad Genetics e Novartis. |
Mal de Parkinson — patente pendente, National Institutes of Health. |
Calvície — patente pendente, Columbia University. |
Uma das metas principais, senão a principal, do Projeto Genoma Humano, é a criação de uma medicina genética, que poderá num futuro próximo identificar falhas ou erros no genoma de um indivíduo e com isso criar uma terapia genética para corrigi-los. Devemos saber, entretanto, que esta é uma visão muito determinista e reducionista do que seja um indivíduo e suas características, mesmo aquelas relacionadas à doenças de fundo genético. Até que ponto a genética é a única responsável por condições multifatoriais? (alcoolismo, suscetibilidade a drogas, criminalidade, e etc). Lembremos que o gene não atua sozinho na determinação das características individuais. A expressão do gene é modelada pelo ambiente, por fatores epigenéticos (do desenvolvimento), e por fatores aleatórios. Neste sentido, a expressão de uma doença, enquanto característica individual, pode ter também a influência destes fatores. Resumindo, se uma doença vai se expressar ou não, numa dada pessoa, não depende única e exclusivamente de determinado gene.

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